Ocupando a 69ª posição no ranking mundial de desenvolvimento humano, segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) divulgado pelo PNUD no ano 2006, o Brasil ainda não percebeu que somente investindo pesadamente em educação, será possível construir um país melhor, com menos desigualdades, bem desenvolvido economicamente e com seu meio ambiente conservado. Com cerca de 11% de analfabetos, com 15 anos ou mais de idade (Indicadores INEP/MEC 2005), aliados aos resultados de avaliações nacionais e internacionais percebe-se a fragilidade do sistema educacional brasileiro.
Dados do SAEB (Sistema de Avaliação do Ensino Básico/INEP/MEC) de 2005 mostram que, comparativamente, entre a avaliação nacional realizada em 1995 e a de 2005, houve queda no desempenho dos alunos em todas as séries e disciplinas avaliadas (4ª e 8ª do EF e 3ª do EM). Apenas 10% dos alunos avaliados dominam os conteúdos das séries em que estão matriculados. Cerca de 50º têm uma grave defasagem. O mesmo ocorreu com as avaliações do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e do PISA (Programa de Avaliação Internacional), isto é, em vez de melhorar, na última década, o ensino brasileiro tem piorado.
De acordo com o economista da Fundação Getúlio Vargas Samuel Pessôa, o Brasil fez escolhas erradas no passado ao não priorizar a educação, investindo (entre as décadas de 1950 a 1980) somente na industrialização e na estatização dos serviços de utilidade pública, em detrimento dos investimentos sociais, especialmente na Educação Básica. Segundo ele, o resultado das escolhas feitas neste período foi uma intensa migração para os grandes centros urbanos, desencadeando uma série de problemas sociais, como a favelização.
Enquanto vários países do mundo avançavam rapidamente em termos educacionais, o Brasil ficou para trás, a passos lentos. Em 1960, a população da Coréia e do Brasil tinha em torno de três anos de estudo em média, mas a partir de então, a escolaridade média dos coreanos aumentou continuamente devido aos fortes investimentos no setor.
Foi em meados da década de 90 que o Brasil começou a aumentar a freqüência escolar. Para Pessôa, apesar do gasto ainda ser baixo, a carência de recursos não é o maior problema da educação brasileira e ele aponta o caminho do aperfeiçoamento da gestão, para que se consiga superar o principal desafio da educação: o da qualidade de ensino da rede pública.
A educação é a base de desenvolvimento de um país, atingindo as dimensões econômicas, sociais e ambientais. Uma maior escolaridade significa salários melhores, diminuição da criminalidade, melhoria da saúde e diminuição da probabilidade de ficar desempregado. Uma população bem educada gera um maior crescimento econômico, atitudes mais conscientes social e ambientalmente. A educação forma adultos com capacidade crítica e, conseqüentemente, cidadãos responsáveis, firmando-se como o investimento que traz um maior retorno que um país pode ter. Então a questão é: como cobrar do povo brasileiro ações mais responsáveis ambientalmente se a maioria não sabe o significado de sustentabilidade e está preocupado se terá dinheiro para comer no dia seguinte?
A pobreza é uma das barreiras para a sustentabilidade. Para a maioria dos governantes a solução da pobreza está no assistencialismo. Surgem vários programas com siglas diferentes, mas com o mesmo objetivo tais como o bolsa-família e o bolsa-geladeira. Não se prioriza a educação, esta sim, um fator de mudança social. São ações imediatistas, que não reduzem o problema, se pensarmos em longo prazo.
Por outro lado, nossa escola precisa aprender a lidar com a diversidade sócio-cultural de seus alunos. Com relação à questão do desempenho escolar, estudos mostram que as variáveis mais determinantes são as características familiares e do aluno, como nível de instrução dos pais, repetência, presença de computador em casa, a participação dos pais na vida escolar dos filhos e se o jovem trabalha fora e estuda ao mesmo tempo. Com relação a variável escolar, o número de horas-aula é apontado como o mais forte na determinação do rendimento.
O economista Samuel Pessôa trata da relação educação e renda, afirmando que a educação é o fator que mais explica a diferença de renda, a desigualdade no Brasil. Quem tem estudo de qualidade ganha mais. A Doutora em Educação e ex-diretora do MEC Iza Locatelli reforça esta idéia, afirmando: “A desigualdade de renda tem forçado a desigualdade de educação, logo temos como corolário que a desigualdade de educação tem sido a maior responsável pela desigualdade de renda. Pior renda, pior escola; pior escola, pior renda. Os países com altos índices de desempenho em testes internacionais como os da Escandinávia, por exemplo, tem uma distribuição de renda mais equânime e, por conseguinte, uma escola boa para todos, porque também o padrão familiar e, como conseqüência o acesso a bens culturais, é melhor distribuído”.
O doutor em Estatística e membro do Conselho Consultivo do INEP José Francisco Soares afirma que a “diferença sócio-econômica e cultural das famílias são pontos determinantes para o desempenho escolar, porém é possível reverter este quadro se a escola for eficaz, de qualidade”.
É possível dizer, portanto, que o Brasil é retrato de um país mal educado: mau desempenho escolar, lixo nas ruas, mortes por dengue provocadas por um simples mosquito, grandes desigualdades sociais, constantes agressões ao meio ambiente.
Fica complicado apontar aqui as soluções para a melhoria da educação no Brasil, uma vez que este é um tema bastante complexo e que envolve uma série de fatores, mas é importante ressaltar a necessidade de promover a aprendizagem e a produção de conhecimentos e de não continuar com o ensino conteudista de hoje, que não gera reflexão nem ajuda a formação de uma consciência crítica. Para a construção de um Brasil melhor em longo prazo, se faz necessário a elaboração de currículos escolares que também contemplem as questões ambientais, de um ensino que forme cidadãos para a vida. Investir fortemente na educação, melhorando a qualidade do ensino no País é primordial para se pensar em um Brasil mais consciente em todas as áreas, contribuindo enfim, para que as futuras gerações recebam um país que zela pela vida de seus cidadãos, de suas águas, suas matas e seus animais.
José Francisco Soares - artigo “O efeito da escola no desempenho cognitivo de seus alunos”, Revista Electrónica Iberoamericana sobre Calidade, Eficacia y Cambio em Educación 2004, Vol.2, Nº2.
Locatelli, Iza- Texto para discussão : Projeto Todos pela educação, apresentado ao Instituto Ayrton Senna, fevereiro 2008
Relatório SAEB- MEC/INEP/DAEB,2005.
Relatório Indicadores educacionais- MEC/INEP, 2005
Samuel Pessôa – “Conseqüências para o desenvolvimento brasileiro do descuido histórico com a educação” in Anais do Seminário “Todos pela Educação,em abril de 2006.